sexta-feira, 26 de junho de 2009

A questão agrária

Saudações!!!

Mais uma vez abandonei o blog por um tempo. Eu sabia desde o início que não seria fácil mantê-lo atualizado.

Enfim, entender "a questão agrária" é de vital importância para compreendermos o papel do Brasil no cenário mundial. Deixamos de ser um país essencialmente rural. Porém, mantemos certas características de nossas raízes, e devemos conhecê-las, pois a partir delas podemos entender o processo histórico pelo qual o país passou até chegar no ponto em que está hoje.

Este tema está sendo discutido em sala de aula, e os alunos tiveram grandes dificuldades no tema. A avaliação foi essa semana, então ainda não identifiquei plenamente os motivos das dificuldades.
De qualquer maneira, deixo aqui um site que serve como base para qualquer pesquisa na área, o portal do ministério da agricultura (www.agricultura.gov.br).
Na seção das Relações internacionais, estão à disposição do internauta diversos relatórios do Agronegócio brasileiro, sendo possível realizar uma análise rápida da importância que agricultura de nosso país exerce mundialmente.

Sem mais,
abraços geográficos!!!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Mudanças climáticas globais: evidências e divergências

O texto que segue foi apresentado para os alunos do ensino técnico no Colégio Tableau de Caraguatatuba no dia 03 de junho de 2009.
Eu e mais três professores da E.E. Ângelo Barros de Araújo (Marcelo, Alexandre e Rosângela) falamos sobre o tema transversal "Meio Ambiente".
Foi uma noite extremamente agradável, de grande proveito tanto para os alunos como para nós, palestrantes.

Mudanças climáticas globais: evidências e divergências
A virada do milênio trouxe à tona diversos dados relativos às mudanças climáticas globais. As discussões iniciaram em Estocolmo na década de 1970 se fortaleceram com a Eco 92, e os relatórios do IPCC (Intergovernamental Panel on Climate Changes) colocaram definitivamente o "aquecimento global" na agenda internacional nesta década. Cientistas ao redor do mundo afirmam que as ações antrópicas decorrentes da revolução industrial vem colaborando para o aumento da temperatura média global a partir de 1750. Segundo estes cientistas, estamos presenciando as primeiras consequências de nossas ações, que seria a resposta da Natureza às mudanças provocadas pela humanidade, os eventos extremos: furacões, enchentes, tempestades, derretimento das geleiras, secas etc. Todas essas situações teriam como causa principal o aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera, principalmente o dióxido de carbono (CO2), resultado da utilização de combustíveis fósseis como fonte de energia.
Diante desse cenário, o relatório do IPCC afirma que, se nada for feito, a humanidade não resistirá às mudanças climáticas globais que estão por vir. A previsão é de que até 2100 o planeta esteja até 2ºC mais quente, com o nível dos oceanos cerca de 1,5m mais alto, com escassez de água e alimentos, sem petróleo e sem energia. Enfim, o apocalipse.
Por outro lado, um grupo de estudiosos se posiciona de maneira contrária aos cientistas do IPCC. Os céticos acreditam que as conclusões do relatório são precipitadas e alarmantes. Segundo eles, nos últimos 150 anos houveram períodos de queda da temperatura intercalados com os períodos de alta. Eles afirmam que há um ciclo natural de variação da temperatura global e o IPCC faz uma análise errônea dos dados disponibilizados. Alguns céticos até concordam que há mudanças climáticas, mas que ainda é cedo para prever o que, como e quando acontecerão os próximos eventos. Por exemplo, Bjorn Lomborg, defende ações diferentes das propostas pelo IPCC. Segundo ele, o importante no momento é fomentar a pesquisa científica para que sejam encontradas soluções viáveis para a situação, e não gastar bilhões de dólares em medidas que nem ao menos foram analisadas.

Efeito estufa
O efeito estufa é apontado como o fenômeno responsável pelo aumento da temperatura global. Ele é um mecanismo natural que a Terra tem para manter-se aquecida, retendo a radiação solar na atmosfera através dos gases de efeito estufa (CO2, metano, ozônio etc). Porém, os cientistas afirmam que a partir da revolução industrial no século XVIII, a humanidade despejou toneladas de CO2 na atmosfera, potencializando a ação do efeito estufa e, portanto, aumentando a temperatura média global. Segundo os cientistas, o demasiado uso de combustíveis fósseis (petróleo, gás natural, carvão mineral) como fonte de energia é a principal fonte de gases do efeito estufa. Além disso, a queimada das florestas tropicais é outro grande emissor de CO2 na atmosfera, o que coloca o Brasil como 4º maior emissor do mundo segundo relatório do IPCC.
O CO2 é responsável por cerca de 63% do efeito estufa total. Além de ser o gás de efeito estufa mais abundante, devido à quantidade com que é emitido, é o que tem maior contribuição para o aquecimento global: em 2004, representou 77% das emissões antropogênicas globais.
Diante deste fenômeno, as perspectivas do IPCC indicam falta de água potável, crescimento da pobreza, derretimento da geleiras e consequente aumento do nível do mar e o desaparecimento de 20% a 40% das espécies vegetais e animais se o aumento de temperatura for de 1,5ºC a 2,5ºC.
Efeitos no mundo
Segundo esses cientistas cada região do globo sofrerá os efeitos de maneira distinta. Por exemplo, segundo o relatório a África será uma das áreas mais afetadas pelas mudanças climáticas por sua incapacidade de adaptação aos eventos previstos. Há previsões de que as áreas áridas e semi-árias terão um significativo acréscimo, diminuindo, consequentemente, as áreas de plantio, levando ao colapso da produção de alimentos e elevando o nível de desnutrição no continente. Além disso, com a elevação do nível do mar, as áreas mais populosas do continente sofrerão com o avanço do mar, deslocando uma grande massa de pessoas.
O derretimento das camadas de gelo do Himalaia provocarão enchentes e avalanches. Após o derretimento, o fluxo dos rios será menor, o que trará escassez de água potável para uma das regiões mais populosas do planeta.
As mudanças não pouparão os países desenvolvidos segundo o IPCC. Na Europa, as previsões são de que o volume pluviométrico aumente, provocando cada vez mais inundações, além do derretimento das gelereiras das montanhas, o que acabará com o turismo de inverno da região. Porém, o norte do continente tem uma peculiaridade. Dizem os cientistas que no início das mudanças, com o aumento da temperatura, a região terá um aumento de áreas produtivas, o que trará benefícios para os países, no entanto, alertam que tal vantagem será suprimida pelo avanço das mudanças climáticas.
No Brasil, com dimensões continentais, temos previsões de extrema preocupação, principalmente no que diz respeito à diminuição da biodiversidade em todos os biomas, à substituição de parte da amazônia pelo cerrado, inundações em todas as regiões, com excessão da região norte, onde a previsão é de redução das chuvas. Esse aumento da pluviosidade será resultado de um desequilíbrio hidrológico, que consiste em períodos de muita chuva intercalados com outros de estiagem.

Resumindo todas as previsões dos cientistas do IPCC, o mundo deve se preparar para o pior, pois, segundo eles, as evidências estão aí, é só analisarmos as mudanças que já estão ocorrendo em diversas partes do globo.
Os céticos
Mas até que ponto todos esses alertas são reais? Devemos nos preocupar com a situação apocalíptica pregada por eles? Uma grande parcela da sociedade acredita que sim, a situação é urgente, e pede medidas extremas agora. Porém, não é uma opinião unânime. Há um grupo de economistas, cientistas, ambientalistas, estudiosos de uma maneira geral, que acreditam que tais previsões são alarmistas e não condizem com a realidade. Os chamados céticos, alegam que há uma má interpretação por parte dos cientistas do IPCC em relação às projeções futuras. A maioria deles concorda que há mudanças ocorrendo, mas discordam da origem das mudanças e das ações que devem ser tomadas em relação às mesmas.
Paulo Artaxo (físico da USP) diz que a ciência ainda não conhece muitos dos processos que são determinantes no sistema climático, resultando em grandes lacunas na nossa compreensão sobre o funcionamento desse sistema, o que traz incertezas inerentes ao entendimento e previsões do que possa vir a acontecer com o clima de nosso planeta nos próximos séculos. Ou seja, como prever mudanças climáticas para os próximos 100 anos se nem ao menos entendemos plenamente o sistema atmosférico de hoje?
Outra vertente que vai de encontro com as informações divulgadas pelo IPCC, é a defendida por Bjorn Lomborg, um economista dinamarquês que já fez parte do relatório, mas que hoje acredita que as medidas propostas não são as mais adequadas para combater a situação. Segundo ele, as mudanças climáticas estão ocorrendo assim como o aquecimento global, porém, não é possível creditar toda a responsabilidade desses eventos à humanidade. No seu livro "The skeptcal environmentalist - measuring the real state of the world", publicado em 2001, através de análises dos mesmos dados utilizados pelos cientistas do IPCC, ele argumenta que a situação não é tão alarmante, e que as inovações tecnológicas serão capazes de reverter o processo das mudanças que estão ocorrendo. Ele ainda diz que as ações no momento devem focar a pesquisa em busca de soluções, e não agir impensadamente em possíveis soluções de longo prazo, sem o devido estudo necessário.
Outro cético que questiona as conclusões alarmistas do IPCC é Colin Robinson, economista, autor do texto "Economics, plitics and climate change: are the sceptics right?". Alguns dos pontos citados pelo economista são que ainda não há provas suficientes de que o Aquecimento global seja realmente resultado das ações antrópicas. Mesmo dentre os cientistas do IPCC, essa afirmação é carregada de dúvidas, e projeções, não há estudos que comprovem a origem do fenômeno.
Ainda segundo ele, os cientistas ainda tem dúvidas se este aquecimento faz parte de um ciclo, assim como tantos outros ciclos de aquecimento e resfriamento da Terra. Se assim for, as ações propostas para evitar as conseqüências podem prejudicar o ciclo, ou até mesmo, interrompê-lo.

Em quem acreditar?
As mudanças climáticas estão acontecendo e isso é fato. Olhemos as camadas de gelo se derretendo, o aumento no número de furacões, e todos os outros alertas feitos e noticiados. Não há como negar. Porém, essas mudanças são localizadas. O planeta é muito grande para afirmarmos que todos estão sendo afetados pelas mudanças climáticas. Estamos diante de uma questão escalar onde, no momento, as análises devem seguir esse padrão de escalas.
Além disso, as dúvidas são muitas. Não há como provar que o Aquecimento global é proveniente das ações antrópicas, ao menos, não completamente. As análises ainda são superficiais.
Enfim, o problema está aí, e as discussões não podem parar. Devemos sempre analisar os mais variados lados possíveis de uma questão, para que possamos tomar decisões conscientes, e não apenas aceitar as informações.
Qual lado é o verdadeiro? Se houvesse um, haveria tantas dúvidas?

Refências
ATUALIDADES VESTIBULAR 2008. Dossiê: aquecimento global. Editora Abril S.A.: São Paulo, SP, 2008.
IPCC, 2007: Summary for Policymakers. In: Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [Solomon, S., D. Qin, M. Manning, Z. Chen, M. Marquis, K.B. Averyt, M.Tignor and H.L. Miller (eds.)]. Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom and New York, NY, USA.
ROBINSON, Colin. Economics, pollitics and climate change: are the sceptics right? Julian Hodge Bank lecture, Cardiff, April 2008.
http://www.lomborg.com/ acesso em 08/06/2009, 17:06h.
http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/ acesso em 08/06/2009, 17:13h.