quinta-feira, 26 de março de 2009

"Cadernos Coloniais"

Me deparei hoje com um site interessantíssimo. "Memoria de África" da Fundação Portugal África, do governo de Portugal.
O site disponibiliza vários ensaios, livros, entre outras publicações referentes ao período colonial africano. É um material riquíssimo, com originais disponíveis para download.
Comecei a ver algumas das publicações e me interessei pelos "Cadernos Coloniais". Segue a descrição,

"Os Cadernos Coloniais são uma colecção com setenta livros publicados pelas Edições Cosmos entre 1935 e 1941.
Abrangeram as diversas colónias, que na altura formavam o Império Português, e os grandes obreiros dessa obra colonizadora."

Resolvi abrir um dos 70 números, o 15º, com um título que me chamou a atenção "Ninho de Bárbaros", mas que começa com uma descrição maravilhosa do Planalto de Angola, que segue o texto:

"Bichos da terra e da agua

Moxico. Planalto de Angola. Mil quilômetros distante do Atlântico. Mil e trezentos metros de altitude. Região de florestas, de rios, de desertos – de desertos perdidos na floresta desmedida.

O pais da floresta abraça conchas de lagos e estendais de anháras, que recortam vasios no atagulhamento das ramarias, que mancham com berrantes dedadas de tintas a sucessão uniforme dos verdes atapetados na terra.
Que são as anháras? Desertos. Desertos absortos no horror da desolação, mas maneirinhos no tamanho, onde se entra sem mais aquélas, donde se volta sem cerimônias. Talvez sejam leitos de velhos lagos lendarios, evaporados em tempos remotos, perdidos até na memoria das gentes. Foram-se as aguas e deixaram à torreira chãs maninhas, de entranhas tão avaras que não gestam arvore nem vigoroso arbusto, que não toleram a medrança de raiz gulosa.
Vai-se pela floresta fóra imerso em verdes de arvores e matagais. De repende, num corte brusco que nenhuma transição acentua, cessa totalmente o arvoredo e a grenha arbusticia. Como em superficies liquidas os olhos chapam-se na imensas planicies razas, vestidinhas da chita dum capinzal rasteiro, de ervagens ligeiras e manas como as que brotam das terras semeadas de trigo, menos espigadas que a messe bravia colhida da monda. Sobre as hastes flexiveis o vento espreguiça-se, marca as ondulações que aprendeu quando roçou o dorso das benditas searas do pão."

Fonte: ARCHER, Maria. Ninho de Bárbaros. Cadernos Coloniais, n.15, Editorial Cosmos, Lisboa, Portugal, p.3-4.
Disponível em <http://memoria-africa.ua.pt/Digital_Show.aspx?q=/CadernosColoniais/CadernosColoniais-N15&p=1>.

Eu iria colocar uma imagem de satélite do Google Earth da região, porém, minha internet está MUITO lenta. Sendo assim, quem se interessar, entre no programa, procure por Angola e observe a fronteira desse país com Zâmbia. Aí está a região descrita no trecho acima.

Abraços geográficos!

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